terça-feira, 27 de setembro de 2011

15/10 Cine Afro Sembene apresenta: O grande bazar, de Licinio Azevedo



O filme centra-se na figura de Paíto, um moçambicano de 12 anos que, após ter sido roubado por um bando de rapazes, decide não voltar a casa enquanto não recuperar o que perdeu. Paíto passa a viver num mercado da capital moçambicana onde conhece Xano, um pequeno ladrão da sua cidade com o qual forja amizade e partilha aventuras. Vendedores, clientes, ladrões e a vida insólita do bazar constituem o pano de fundo. Pelos olhos do jovem Paíto percebemos bem de perto o que significa (sobre)viver numa cidade no sul de África. O filme aprecia com vagar ambientes e cenas comovedoras, transmitindo um olhar sem disfarce sobre o quotidiano. Fonte: Cine África 
Sobre o diretor: Cineasta, produtor e escritor brasileiro, Licínio Azevedo nasceu em 1951, em Porto Alegre (Brasil). Radicado em Moçambique desde 1975, trabalhou no Instituto Nacional de Cinema, acompanhando trabalhos dos realizadores Ruy Guerra e Jean-Luc Godard. Orientou, durante cinco anos, o programa de televisão semanal, Canal Zero, do Instituto de Comunicação Social em Moçambique. É um dos fundadores da empresa moçambicana de produção de cinema Ebano Multimedia. Produziu seu primeiro longa-metragem moçambicano de ficção, O Tempo dos Leopardos, baseado no seu próprio livro sobre a guerra da independência “Relatos do Povo Armado” (1983). Realizou vários documentários que obtiveram diversos prêmios. Saiba mais em: Infopedia



Sobre Moçambique: Moçambique, Republica de Moçambique, é um país da costa oriental da África Austral, limitado a norte pela Zâmbia, Malawi e Tanzânia, a leste pelo Canal de Moçambique e pelo Oceano Índico, a sul e oeste pela África do Sul e a oeste pela Suazilândia e pelo Zimbabwe. Capital - Cidade de Maputo. Língua Oficial: Português. Outras línguas nacionais: cicopi, cinyanja, cinyungwe, cisenga, cishona, ciyao, echuwabo, ekoti, elomwe, gitonga, maconde (ou shimakonde), kimwani, macua (ou emakhuwa), memane, suaíli (ou kiswahili), suazi (ou swazi), xichanga, xironga, xitswa e zulu. Sistema político: Democracia Multipartidária. Data da Independência: 25 de Junho de 1975. Saiba mais em: Mozambique.org

O cinema em Moçambique - excerto: Diferentemente de outros países africanos, Moçambique teve, mesmo antes de sua independência, uma relação privilegiada com o cinema. A nova República Popular de Moçambique, tornada independente em 1975, iniciou um processo de transformação política, social e cultural, em muito inspirado nos exemplos soviéticos e cubanos. A FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique –, visando cumprir objetivos políticos, investiu fortemente na produção de filmes, especialmente no gênero documentário, e soube utilizar o cinema como meio de afirmação e unificação – em um país que conta com 28 línguas reconhecidas e muitos dialetos – bem como meio de pressão diplomática. Além da produção, a exibição de filmes moçambicanos também tornou-se uma prioridade para o governo no período pós-independência. Em 1978, a pequena indústria de distribuição e exibição é nacionalizada, e é criado o “Cinema Móvel”, trinta e cinco carros equipados para projeções itinerantes que levavam às aldeias os filmes intitulados Kuxa Kanema (“Nascimento do Cinema”). O cinema móvel difundia o discurso do governo em zonas rurais, bem como propiciava a descoberta do cinema para platéias de regiões remotas. Texto completo de Alessandra Meleiro com colaboração de Mahomed Bamba em:  Buala - Cinema e Cultura Africana.


Links relacionados a Licinio Azevedo e sobre Cinema em Moçambique:
 
 
-- Filmografia completa de Licinio Azevedo até a presente data
Em: Wikipédia - Licínio Azevedo 

-- Moçambique com os Mirage Sul-Africanos a 4 minutos
Editora Global - São Paulo/SP – 1980

-- Faróis: Licínio Azevedo - entrevista
Fonte: O Globo

-- Versus – vários autores - Toninho Mendes (organizador)
Editora Azougue - Rio de Janeiro – 2007

-- Cinema de Moçambique
Links diversos em: www.google.com.br
 
 
-- Os cinemas africanos: pela descolonização da mente
por Marcelo Ribeiro


Cine Afro Sembene
Cinema africano todo terceiro sábado



Pesquisa e postagem: Oubí Inaê Kibuko – diretor de Marketing e Comunicação do Fórum África e um dos coordenadores do Cine Afro Sembene.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O escritor na biblioteca apresenta Geni Guimarães

Quilomboletras convida


Criado em 1981, o projeto "O Escritor na Biblioteca" coloca os escritores em contato pessoal com os leitores. Através de um painel de debates, o escritor apresenta sua obra e relata suas experiências, promovendo a aproximação com os leitores e estimulando a criação literária e o gosto pela leitura.



Sobre Geni Guimarães
Professora, poeta e ficcionista, Geni Guimarães se aproximou nos anos 1980 do grupo Quilombhoje - Literatura, responsável pela organização e publicação anual da série Cadernos Negros  e do debate em torno da literatura negra. Entre suas obras estão "Leite do peito", "A cor da ternura", "Da flor o afeto" e "Terceiro filho". A escritora vem às Bibliotecas por meio de uma parceria com o Grupo Quilomboletras e, além de conversar com o público, ela também lerá alguns de seus poemas e contos.

Dia 8 de outubro 2011, sábado, às 14 horas
Biblioteca Alceu de Amoroso Lima 
Rua Henrique Schaumann, 777 - Metrô Pinheiros e/ou Sumaré
Pinheiros - CEP 05413-021 - São Paulo, SP
Tel. 11 3082-5023


Links relacionados:

Geni Guimarães, uma escritora negra
Literafro - UFMG


Quilombhoje - Literatura


SOBRE O QUILOMBOLETRAS - CLUBE NEGRO DE LEITORES
Grupo que objetiva a troca de impressões de leitura. Seus encontros bimensais, sempre das 14 às 18 horas, ocorrem em locais itinerantes, a partir da leitura de livros de ficção, poemas, contos ou peças de teatro de autores negros brasileiros e estrangeiros. Como impressão de leitura entende-se o conjunto de idéias, emoções e reflexões geradas no ato da leitura. Para participar é preciso ser convidado pela coordenação do grupo, cumprir e respeitar algumas exigências:

O Quilomboletras - Clube Negro de Leitores, para garantir êxito em suas reuniões, adotou as seguintes regras para todo e qualquer participante, sem exceção:
* Ler inteiramente o livro proposto para o encontro.
* Apresentar verbalmente suas impressões sobre a leitura realizada e ouvir as impressões de todos os demais.
*Respeitar o tempo máximo estipulado pelos coordenadores para cada participante se manifestar.
* Não levar acompanhante que não esteja inscrito e/ou que não tenha lido todo o livro indicado.
* Inscrever-se até a data prevista, e aguardar a confirmação da equipe de coordenadores, pois as inscrições serão aceitas por ordem de chegada até atingirem o número máximo de 20 pessoas.
* Não atrasar, porque, depois do início do encontro, não será permitida a entrada no recinto, nem justificativas para faltas.
* Não dar a desrespeitosa "passadinha", ou seja, não sair antes do término previsto.
* Confirmada a inscrição, não faltar ao encontro.
* Local: o endereço será informado posteriormente. Observação: o local estará disponível a partir das 13 horas e 30 minutos.
Vai ser bom se você vier participar conosco.
Coordenação: Mirian Rocha, Luiz Silva (Cuti), Vanderli Salatiel




Pesquisa e postagem: Oubí Inaê Kibuko
Diretor de Marketing e Comunicação do Fórum África e um dos coordenadores do Cine Afro Sembene.


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um livro pioneiro sobre o cinema em e de Moçambique

Uma história político-cultural do Moçambique colonial até à República de Moçambique (1896-2010).
 
Estou a ver o Guido Convents à minha frente, como se diz em português moçambicano, com seu ar solene, vagamente nostálgico, ou não fosse ele filho desse “Plât Pays” de que falava Brel, cantando-o, em francês. Que me perdoe ele a referência à língua de Yourcenar, agradável alusão, adivinho-a, para Monsieur. Pedro Pimenta, seguramente sentado a seu lado. Circunstância que dá une Belgique linguística e inusitada em Maputo. Guido Convents é de etnia flamenga. Não se riam…

Vejo-os porque há um filme batendo na cabeça que permite estas misteriosas artes de sangoma. Que ninguém se assuste e não trema a voz a Cristiana Pereira, esforçada leitora destas palavras de inscrição, que não de circunstância. Ao público presente,  aos cineastas e a todos os amantes do cinema, aquele Abraço.

Os Moçambicanos perante o cinema e o audiovisual – uma história político-cultural do Moçambique colonial até à República de Moçambique (1896-2010), que tive a honra e o prazer de rever, é uma obra seminal, pioneira.Trata-se do primeiro e abrangente olhar sobre o que foi a exibição, recepção e produção de imagens no imenso e belo território à beira-Índico pulsando. Obra extensa, com rigores metodológicos e profusa bibliografia, não deixa de se constituir como uma narrativa, em caleidoscópio, desse “mundo do cinema”, como gosta de salientar o autor, presente em Moçambique quase imediatamente após a céllebre sessão dos irmãos Lumière, em Paris. Estava Ngungunhane a começar a sofrer o seu exílio, nos Açores, tumultuava a terra moçambicana no começo de uma saga de ocupação que só terminaria em 1975.

Como humilde copy desk, não me cabe fazer a apresentação da obra. Devo dizer que, diante de tanto texto, às vezes escrito em “belguês”, me senti como o tipógrafo-revisor Raimundo, da obra de Saramago, tentado a mudar uma simples vírgula, não para adulterar a prosa, mas para conseguir abraçá-la por inteiro e de uma vez, restituindo-a à língua de Craveirinha. Mas como ganguissavam as palavras!… Só espero não ter falhado muito. Se notarem uma ou outra gralha, deixem-me ao menos subir às palmeiras, para citar o verso de António Jacinto e título do filme de Joaquim Lopes Barbosa, cujo, em sessão clandestina, vi no estúdio de Courinha Ramos, na antiga Latino Coelho.

Sobre o livro falarão, decerto, outros e mais autorizados leitores e especialistas. Eu não passo de um fantasma, uma tela de palavras, cuja articulação, sentido e som, vos chega na pausada leitura de Cristiana Pereira.

O que pretendo é fazer uma declaração de amor. Não se surpreendam nem tirem conclusões apressadas… Sou obrigado a este texto por irrecusável directiva de Pedro Pimenta. É ele o responsável.

E a declaração de amor tem como objecto de desejo essa magia de luz e som que dá pelo nome de cinema.

Com este trabalho de Guido Convents dei por mim a fazer um imenso flash back. Vi-me a subir o elevador do Prédio Paulino Santos Gil para ir pagar as quotas do Cine-Clube, a descer do Alto Maé à baixa para assistir à estreia, no Varietá, do Lawrence da Arábia, de David Lean, com o velho porteiro e contínuo, o Picão, a dar-nos calduços no toutiço, que era o preço de uma entrada de borla, nós, espécie de “les enfants du paradis”, sozinhos, com um pirolito e um remexer de bolsos a ver se ainda dava para uma Coca-Cola. E a tarde de sábado, britânica… suspiraria Reinaldo Ferreira. Rememorei o que me contou José Craveirinha sobre as sessões no cinema popular que ficava na 24 de Julho onde é hoje o Museu da Revolução. E voltei a ver o letreiro já muito esbatido de um certo cinema “Variedades”, no Alto Maé, em cuja construção um avô colonial e pedreiro trabalhou.

Ao filme interior, que esta obra de Guido Convents me suscitou, acrescentou-se a aprendizagem de tanto “facto/fado” ligado à aventura das imagens em Moçambique. Porque se trata de um livro com interessantes surpresas. A começar pela pelicula que se estreia no famoso cinema Império, da avenida de Angola. Depois, a rede de exibição que a Igreja católica, mas também outras confissões, mantinham junto da então chamada população indígena. O que eles viram meu Deus! Não se riam.

Tendo como fonte principal O Brado Africano, Guido Convents fornece-nos matéria para melhor percebermos como as diversas camadas que então constituíam a sociedade colonial se posicionavam em relação ao “mundo do cinema”: do proselitismo imperial e confessional ao posicionamento, com inquietações identitárias, das diversas camadas dos chamados filhos da terra. E de como o cinema, anos mais tarde, já em pleno impacto da luta de libertação, serviu como medidador e metaforização do debate político urbano sobre a afirmação nacional moçambicana. E foi instrumento de propaganda e divulgação da luta armada.

Do pós-independência falarão os ilustres apresentadores da obra. Aliás, atenta e minuciosa segunda parte deste livro. O que me ocorre é perceber o imenso interesse que o fenómeno cinemaográfico em Moçambique está a suscitar entre estudiosos, um pouco por todo o mundo, e de como nos pertencem também, aquelas imagens que os outros fizeram sobre nós. Mesmo as que estejam eivadas das singulares e imperiais retóricas que bem conhecemos.

Como ósculo final - happy end, portanto -, para esta misteriosa dama de Xangai na sua sala de espelhos, não queria deixar de homenagear os cineastas moçambicanos, cuja difícil e já significativa aventura, em meio de tantas dificuldades, teima em prosseguir.

Lendo esta obra de Guido Convents, percebe-se que há um desafio de produção, de exibição e de cultura que urge continuar. Há uma Cinemateca por criar. Há uma Lei do Cinema que é imperioso regulamentar, agilizar, adequar às realidades concretas do país.

O cinema moçambicano é parte do acervo histórico nacional, e uma ferramenta poética para perceber o presente e perspectivar futuros; é património cultural, a par da nossa literatura, da pintura, da escultura, do teatro, do canto e da dança, podendo espelhá-las a todas, essas belas e malasartes, mais a imensa riqueza linguística e diversidade de que é feita a invenção real e utópica da nossa plural identidade.

Last, bu not least, uma saudação a Pedro Pimenta e ao DocKanema, esse supremo atrevimento de Festival a querer colocar Maputo no road map do cinema africano.

Com um aceno de felicitações a Guido Convents (foto), sugiro que comecem agora a falar a sério.

Kanimambo.

por Luís Carlos Patraquim


Pesquisa e postagem: Oubí Inaê Kibuko para Cine Afro Sembene e Fórum África