quarta-feira, 23 de março de 2011

Semana de Cinema e Cultura Africana no CEU Lajeado

O Centro Educacional Unificado (CEU) Lajeado, na zona leste de São Paulo, irá realizar a Semana de Cinema e Cultura Africana, em homenagem ao Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, comemorado em 2011.

    A semana irá contar com a apresentação de filmes do cineasta Sol de Carvalho, um moçambicano que já fez diversos longas e curtas-metragens que abordam a realidade africana, relatando problemas enfrentados por alguns países.

    As apresentações terão início na segunda-feira (21), quando se comemora o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Descriminação Racial, e serão encerradas no dia 25 de março. Os filmes serão exibidos todos os dias, às 19h30, no Teatro CEU Lajeado, e após as sessões serão discutidos os assuntos de cada película, como racismo, exclusão social, educação e corrupção.

    Confira abaixo a lista de filmes exibidos:

    - Rodas de rua
    - Quando o mar bate na rocha
    - Garras e dentes
    - Pregos na cabeça
    - Muhipiti Alima
    - Maria a empregada - após a exibição haverá uma conversa sobre o filme com Vanderli Salatiel, coordenadora do Cine Afro Sembene e Fórum África
    - O jardim do outro homem

    O CEU Lajeado fica na rua Manuel da Mota Coutinho, 293 – Lajeado. Para assistir aos filmes, agende a visita no número 3397 6954.

 

Entrevista com Sol de Carvalho

 por João Teixeira

Num país onde um bilhete de cinema pode custar 10% do salário de um trabalhador, Sol de Carvalho realizou “O Jardim do Outro Homem”, a primeira longa-metragem do cinema Moçambicano em 20 anos. Conta a história de Sofia, uma jovem que se esforça por perseguir o sonho de estudar Medicina, tendo para isso de enfrentar a corrupção e a chantagem de um professor que a obriga a uma relação sexual não-protegida em troca de um resultado positivo num exame. Não sendo necessariamente um filme sobre a SIDA/HIV, “O Jardim do Outro Homem” pretende reflectir sobre a relação entre a cultura e o subdesenvolvimento, nos seus vários aspectos.
Sol de Carvalho nasceu na Beira e persiste em viver e trabalhar em Maputo, sendo este o 3º filme de ficção do cineasta, que lançou igualmente uma curta-metragem intitulada “A Janela” e “Terra Sonâmbula”, este último baseado no romance do escritor moçambicano Mia Couto.
Em entrevista exclusiva a “CulturaPALOPsPortugal.comSol de Carvalho reflecte sobre os vários aspectos da cultura e a sua contribuição para o desenvolvimento, bem como a estética que caracteriza o cinema moçambicano:
“Vejo a cultura de forma bastante diferente que outros, nomeadamente o poder. Por exemplo, estou a trabalhar agora num projecto que envolve o cinema relacionado com a SIDA (AIDS). Temos já um grau de infecção nacional bastante grande, de cerca de 20%, e o problema desse combate, onde eu próprio, como cineasta, também estou envolvido, é nada mais nada menos que o problema da cultura. Tem a ver com a maneira como as pessoas se comportam nos relacionamentos sexuais, familiares, etc. Por este exemplo, pretendo explicar a razão porque entendo a cultura não como um “departamento” do desenvolvimento, mas seria a própria concepção do desenvolvimento. A cultura seria aquilo que poderia indicar as linhas-mestras, os caminhos, criar a base. Infelizmente, nos outros PALOP a situação não é muito diferente. A cultura está muito associada a apenas uma das suas manifestações, que é a arte. Cultura é comportamento humano; a arte é apenas uma parte desse comportamento, a transfiguração do real que fazemos como artistas. Em países acabados de sair da guerra, como Moçambique, Angola, etc., mesmo esse lado da arte infelizmente é ainda muito incipiente. Mas existem manifestações extremamente interessantes e nesses contextos tão adversos; existem erupções tão fortes como a do vulcão da Islândia. Coisas que arrebentam assim de vez em quando, quer no cinema, quer na dança moderna, quer na pintura…”

“O Estado faz, a nível cultural, o papel de preservação – toma mais conta das coisas que são tradição. A nossa função, como artistas, é desbravar os caminhos novos, que não são muito apoiados pelo Estado. Não há apoio à inovação, à pesquisa, à descoberta de novos caminhos”.

“Na nossa ‘desgraçada’ arte do cinema, temos agora muito recentemente a Escola de Cinema. E foi uma geração que vem do tempo do Samora Machel, numa altura em que o país se propunha ser socialista e essas ideias, quando não havia televisão, e o poder tinha a percepção de que precisava de um veículo para comunicar com as pessoas, e esse veículo seria o cinema. Foi criada uma estrutura muito forte, o Instituto Nacional de Cinema, que tinha uma série de equipamentos antigos e que produzia em película. Foi aí que eu e praticamente toda a geração dos cineastas moçambicanos que hoje têm algum nome, nascemos. E esse é o nosso problema. Só agora estamos a começar com uma geração nova, que trabalha com vídeo e faz algumas experiências novas. Devido à forte aposta do Estado de então, essa geração criou também um importante grupo de técnicos. Temos também a vantagem de estarmos ao lado da África do Sul, que tem também bastante equipamento. Por exemplo, Flora Gomes (Guiné-Bissau) está agora a filmar em Moçambique. Há pouco tempo, 3 cineastas dos PALOP participaram num Festival Pan-Africano da Argélia, intitulado “África visto por”, em que convidaram 12 cineastas, entre eles Flora Gomes, Zézé Gamboa (Angola) e eu. E os 3 filmes foram feitos em Moçambique! Flora Gomes voltou a Moçambique e está agora a filmar com Danny Glover. Licínio Azevedo, brasileiro-moçambicano, já está em Moçambique desde 1975, tem prémios de várias partes do mundo, e está também a filmar ficção em Moçambique… Moçambique tem algum peso neste circuito”.

“Mas não conseguimos ainda encontrar a CPLP! Há passos, há caminhos, várias pessoas têm tentado fazer festivais, etc., e espero que o FESTin possa ser um kick-off para isso. É nestes festivais, nas conversas de café, que se tem de começar a falar destas coisas, das co-produções e dos trabalhos… de facto não há maneira de construir cinema da CPLP se não se construir pela base, com estes projectos em conjunto, estas pontes… estamos a lançar alicerces, vamos ver se os blocos ficam lá e a gente consegue construir as pontes”.
“Procuramos sempre encontrar estéticas e maneiras de tratar o cinema que tenham a ver com a nossa realidade. Os temas recorrentes são os da democracia, da pobreza, do desenvolvimento, etc., mas é preciso trabalhá-los no sentido de conseguirmos fazer um filme e não um panfleto político. Nós trabalhamos com recursos locais, em termos de representação. Muitas vezes temos actores no meio da multidão, em que só eles sabem que estão a ser filmados. E isso também cria uma estética própria, uma visão das coisas. Por causa da capulana e das roupas, temos cores de contraste muito fortes, e uma luz dura, muito forte. Isso significa que há uma variedade, uma permanência de cores e de vivências de cores”.

“Mas o argumento principal é que como nós fomos todos formados na mesma altura e acreditámos, numa forma ou outra, nesse projecto de construir uma sociedade socialista e igualitária, todos nós somos cineastas sociais. O primeiro filme de amor do cinema moçambicano pós-independência foi precisamente um filme de 10 minutos que fiz há 4 anos, para ensaiar “A Janela”. Toda a nossa temática foi sempre uma temática social, que é uma característica política, de mensagem, mas também de estética, que envolve certas abordagens. Portanto, há uma aproximação em relação à nossa ficção, que tem a ver com a maneira como pesquisamos a realidade”.

Breve História de Moçambique
A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi, descreveu uma importante atividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da costa norte e centro do atual Moçambique.

No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história" do país (antes da escrita). Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história seja a fixação nesta região dos povos bantus que, não só eram agricultores, mas introduziram a metalurgia do ferro, entre os séculos I e IV.

Entre os séculos X e XIX existiram no território que atualmente é Moçambique vários estados bantus, o mais conhecido foi o império dos Mwenemutapas (ou Monomotapa).
A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 — com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim — se transformou numa ocupação militar, com a submissão total dos estados ali existentes, levando, no início do século XX, a uma verdadeira administração colonial.

Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975, na sequência da Revolução dos Cravos, a seguir à qual o governo português assinou com a Frelimo os Acordos de Lusaka. Após a independência, com a denominação de República Popular de Moçambique, foi instituído no país um regime socialista de partido único, cuja base de sustentação política e económica se viria a degradar progressivamente até à abertura feita nos anos de 1986-1987, quando foram assinados acordos com o Banco Mundial e FMI. A abertura do regime foi ditada pela crise económica em que o país se encontrava, pelo desencanto popular com as políticas de cunho socialista e pelas consequências insuportáveis da guerra civil que o país atravessou entre 1976 e 1992.

Na sequência do Acordo Geral de Paz, assinado entre os presidentes de Moçambique e da Renamo, o país assumiu o pluripartidarismo, tendo tido as primeiras eleições com a participação de vários partidos em 1994.

Para além de membro da ONU, da União Africana e da Commonwealth, Moçambique é igualmente membro fundador da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) e, desde 1996, da Organização da Conferência Islâmica. (Para ler texto integral clique aqui)



Descobridor do HIV procura “cura” para SIDA

Maputo, 21 Mar. (AIM) – O prémio Nobel de Medicina, o francês Luc Montagnier, encontra-se em Maputo, capital moçambicana, para apresentar os resultados de uma pesquisa sobre um suplemento alimentar com efeitos “muito positivos” para os doentes de SIDA.
 
Laureado com o Prémio Nobel como reconhecimento à sua descoberta do Vírus de Imunodeficiência Humana (HIV), o professor Montagnier tem estado, nos últimos anos, a investigar o uso de suplementos alimentares benéficos para a prevenção ou combate ao HIV.

O referido trabalho é realizado com a colaboração da “Edge to Edge Global Investiment Limited (E2E)”, uma companhia sul-africana vocacionada á investigação e produção de suplementos alimentares melhorados e, recentemente, desenvolveu um produto com efeitos positivos para os doentes de SIDA.

O cientista francês foi convidado pelo antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano, para falar dos resultados da sua pesquisa durante o segundo encontro do Grupo Livingstone dos Antigos Chefes do Estado e de Governo Africanos, realizado hoje em Maputo. (Para ler texto integral clique aqui)



Fontes: 

segunda-feira, 21 de março de 2011

O crime de Sharpeville: Imperioso lembrar para jamais repetir, ou imitar




Segunda-feira, 21 / março / 2011

Eloi Ferreira de Araujo*


Hoje é um dia especial para a cultura negra. Há exatos 51 anos, 69 crianças, mulheres e homens negros foram assassinados em praça pública pelo exército sul-africano no bairro de Sharpeville, na cidade de Johannesburgo. Motivo: terem saído às ruas, pacificamente, para reivindicar a extinção da Lei do Passe, que os obrigava a portar cartões de identificação com o registro dos locais por onde lhes era permitido circular.

O crime do regime do Apartheid da África do Sul ficou conhecido como O Massacre de Sharpeville. E motivou a instituição do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Uma data que o Brasil, a maior Diáspora Africana do continente americano, tem razões, infelizmente, para relembrar.

O Governo Brasileiro, em articulação com a sociedade civil organizada, tem dado passos largos para desestabilizar a mentalidade que constrói tragédias como a de Sharpeville. As políticas de ações afirmativas, que elevaram consideravelmente o número de negros e negras nas universidades públicas; e a sanção do Estatuto da Igualdade Racial, marco histórico para a construção da igualdade de oportunidades entre negros e não-negros, são dois dos mais recentes passos da política de inclusão para o acesso aos bens econômicos e culturais do País.

Mas ainda há muito a enfrentar

Uma rápida análise do noticiário é suficiente para identificar manifestações de racismo na sociedade brasileira. Em 13 de janeiro deste ano, por exemplo, os seguranças de um supermercado em São Paulo foram acusados de apreender, ilegalmente, uma criança de 10 anos, sob acusação de furto e gritos de “negrinho sujo e fedido”. Depois de submeter o garoto a humilhações, os seguranças encontraram em seu bolso o ticket que comprovava que ele pagara pelos objetos sob suspeita…

No Carnaval baiano deste ano, mais um indicativo de discriminação. O líder da banda de pagode Psirico acusou um empresário, em plena Avenida, sob as luzes das câmeras de TV, de tê-lo chamado de “preto” e “favelado”. Os casos ganharam destaque nos veículos de comunicação de massa, mas são apenas dois exemplos, dentre diversos outros registrados em notas de rodapé ou em Boletins de Ocorrência Policial.

O caldo de cultura que baseia tais ataques à identidade de descendentes de africanos está, sem sombra de dúvida, entrelaçado com o perfil dominante das mortes violentas no País, que vitimam, em sua maioria, jovens negros, segundo estudos sobre violência urbana da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O mesmo caldo que motivou o assassinato dos jovens sul-africanos.

E os brasileiros têm consciência da força simbólica do racismo. Não foi à toa que festejaram a eleição do presidente Barack Obama nos Estados Unidos da América. Um negro no comando da mais poderosa nação do mundo emite simbolismo oposto ao que guia as mãos e as vozes que agridem a identidade dos negros e negras no Brasil e no mundo.

Não foi à toa também que, das conversas com a presidenta Dilma Rousseff, tenha constado a agenda da cultura negra. Para além dos resultados imediatos da discussão sobre o Plano de Ação Conjunta Brasil-Estados Unidos para a Eliminação da Discriminação Étnico-racial e Promoção da Igualdade, que norteou a pauta sobre o assunto, há os efeitos simbólicos da visita em si de Barack Obama sobre a identidade negra no Brasil.

Efeitos previsivelmente positivos. Um dos muitos que, esperamos, serão gerados em 2011, instituído pela ONU como o Ano Mundial dos Afrodescendentes.

*Artigo de Eloi Ferreira de Araujo, presidente da Fundação Cultural Palmares, publicado originalmente no Correio Braziliense, sob título “O crime de Sharpeville”.

 
Fotos de Arquivo: Igualdade e Identidade
 
Foto do menino: Ricardo Nogueira




Um Grito de Liberdade: filme para ver e refletir

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As cenas iniciais nos colocam no meio de um gueto. Poderíamos imaginar se tratar de mais um filme sobre o holocausto, não é. A palavra gueto é rapidamente associada ao genocídio dos judeus na 2ª Guerra Mundial praticado pelos nazistas. Nos parece que associá-la a outros momentos da história não é adequado, acreditamos que perseguições e violências semelhantes ao que ocorreu na Alemanha entre 1939 e 1945 não devam ter acontecido nas mesmas proporções em outras regiões do planeta.
No entanto, as imagens marcantes de crianças sendo espancadas, mulheres gritando em desespero, homens tentando se defender de agressões covardes e gratuitas nos são apresentadas. Tanques invadindo locais deploráveis, sem as mínimas condições de higiene, propícias ao surgimento de doenças, onde vivem pessoas aos milhares, estão ao alcance de nossos olhos. Impossível não se sensibilizar com tão evidente falta de humanidade. Estamos presenciando cenas da década de 1970, ocorridas na África do Sul, num sub-distrito de Capetown (a cidade do Cabo). As vítimas de toda essa insanidade são os negros, os agressores são os brancos.
Os registros que deram base para as fortes seqüências filmadas pelo premiado e experiente diretor inglês Richard Attemborough (o mesmo que filmou o épico "Ghandi") vieram de dois livros, escritos pelo jornalista sul-africano Donald Woods, que vivenciou os acontecimentos e pode, dessa forma, fazer relatos denunciando toda a violência e a intolerância características do regime de segregação racial sul-africano, o Apartheid.
Além de ter visto, ouvido e sentido na própria pele todo ódio incontido dos brancos em relação aos seus conterrâneos negros, Woods teve a oportunidade de viver proximamente ao ativista Stephen Biko. Inteligência privilegiada, Biko se tornou uma liderança respeitada dentro de sua comunidade desde os tempos em que era estudante, aproveitando-se das poucas chances de estudar concedidas pelos governantes brancos sul-africanos à maioria negra do país.
A estruturação da sociedade do apartheid fazia prevalecer a lógica mesquinha da divisão injusta dos meios e recursos, das oportunidades e bens materiais, legando a comunidade negra, majoritária em termos quantitativos, as piores condições de vida e de trabalho, a humilhação de ter que pedir autorização para se deslocar de um lugar para o outro, a separação de famílias para que pudessem sobreviver (os empregos eram concedidos em locais distantes, homens e mulheres acabavam se encontrando apenas nas folgas e nos finais de semana), os salários irrisórios, as moradias que eram verdadeiros guetos (favelas, cortiços ou como queiram chamar).
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A violência aplicava-se sob a égide de um estado de caráter fascista, a base de pancadaria e de submissão a condições totalmente desumanas. Woods (interpretado no filme pelo versátil Kevin Kline) é um jornalista liberal, que faz críticas a ação desmesurada do governo, mas que, vive em subúrbio luxuoso, afastado de toda a conturbação característica dos bairros pobres onde residem os negros. Parece atento ao que acontece ao seu redor, mas não consegue perceber todas as mazelas e diferenças que matam milhares, que mutilam outros tantos, que ferem os corpos assim como as almas. E o pior, tudo acontecendo por conta da diferença da cor da pele.
Biko (protagonizado pelo excelente Denzel Washington, premiado com o Oscar duas vezes, por seu desempenho em "Tempo de Glória" e "Dia de Treinamento"), é um dos alvos mais freqüentes dos editoriais escritos por Woods. Do alto de toda a sua sabedoria de membro da classe dominante, o jornalista acredita que a ação de líderes negros como Biko aumenta o ódio racial, faz crescer o número de situações de enfrentamento, distancia a comunidade negra dos brancos e estimula a segregação ao invés de combatê-la.
Quando Woods e Biko se conhecem, quebram as barreiras do silêncio impostas pelo estado racista a Biko e estabelecem conexões entre si que reforçam a idéia de que o diálogo, a compreensão e as concessões são o melhor caminho para solucionar o problema sul-africano. A admiração mútua logo se torna mais marcante e o carisma do líder Biko atinge em cheio o jornalista liberal que passa a utilizar seu espaço no jornal para pregar em favor do fim do apartheid. A perseguição aos negros atinge então seu confortável lar de classe dominante num luxuoso distrito reservado a elite branca.
O que lhe parecia distante, próprio dos subúrbios poeirentos em que residiam os negros, também podia chegar a sua casa, atingir a sua família, obrigá-lo a se calar. Os amargos "remédios" dados pelos racistas sul-africanos a Biko e a Mandela (preso desde a década de 1960 tendo sido solto apenas no final dos anos 1980) atingiam Woods. O doce sonho de que toda a situação vivida pelo país poderia ser superada às custas de planos de governo e boa vontade da população iam por água abaixo. Que alternativa resta senão a luta, que possibilidade se apresenta que não seja o enfrentamento. Biko acreditava ser possível alterar os rumos do país seguindo as máximas de Ghandi e Martin Luther King, sem violência.
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Qual foi o custo de toda essa verdadeira guerra civil que se instalou entre os sul-africanos? Quantos homens e mulheres morreram vitimados pela discriminação? As feridas desse verdadeiro genocídio podem se cicatrizar? Será que um dia superaremos todas as formas de preconceito e aceitaremos os outros como são? Assistir a "Um Grito de Liberdade" nos faz refletir sobre essas questões. Alimenta um debate que a humanidade ainda não conseguiu resolver. Permite que falemos sobre problemas que ainda existem. Apesar do fim do regime do Apartheid, será que a situação de vida dos negros na África do Sul melhorou? Como serão as relações entre negros e brancos nesse país hoje em dia?

Ficha Técnica
Um Grito de Liberdade
(Cry Freedom)
País/Ano de produção:- Inglaterra, 1987
Duração/Gênero:- 157 min., drama
Disponível em vídeo
Direção de Richard Attemborough
Roteiro de John Briley
Elenco:- Denzel Washington, Kevin Kline, Penélope Wilton.


sábado, 19 de março de 2011

O Cinema da África

A expressão cinema da África se refere geralmente à produção cinematográfica dos países ao sul do deserto do Saara, que se tornaram independentes a partir dos anos 60. Alguns países que pertencem geograficamente ao continente africano (Egito, por exemplo) desenvolveram uma indústria cinematográfica mais cedo. Comumente, cinema da África inclui também filmes de diretores africanos que emigraram de seus países, geralmente para a América.

 

História

Durante o período colonail, a África foi representada no cinema por cineastas do Ocidente. O continente era apresentado sem história ou cultura próprias. Os melhores exemplos são os épicos Tarzan, Uma aventura na África e vários adaptações de Rider Haggard para uma novela chamada As Minas do Rei Salomão.

Para muitos escritores africanos, como Chinua Achebe, assim como para os cineastas africanos,o repúdio aos estereótipos e imagens sobre os africanos foi uma importante motivação. Nas colônias francesas, a atividade era formalmente proibida. O primeiro filme francês sobre o tema, L’Afrique sur Seine (1955), foi, na verdade, uma curta-metragem realizada em Paris por jovens estudantes africanos do IDHEC sob a direção de Paulin Soumanou Vieyra.

Antes da independência, poucos filmes anti-coloniais eram produzidos. As estátuas também morrem de Chris Marker e Alain Resnais, sobre um assalto de arte africana, que foi censurado na França por dez anos, ou Afrique 50 de René Vauthier, sobre revoltas na Costa do Marfim e em Burkina Faso, são alguns exemplos. Alguns filmes etnográficos dessa época produzidos por Jean Rouch e por outros diretores foram rejeitados por cineastas africanos porque na opinião destes a realidade africana era distorcida.

 

Decádas 1960 e 1970

O primeiro filme africano a ter reconhecimento internacional foi A Negra de…A Jovem Negra), de Ousmane Sembène, que mostrava o desespero de uma mulher africana ao trabalhar como doméstica na França. O escritor Sembène se voltou para o cinema para atingir um público maior. Ele é considerado o "pai do cinema africano". O país onde ele nasceu, o Senegal, tem a produção cinematográfica mais significativa. 
Em 1969, com o Festival do Cinema Africano - FESPACO, em Burkina Faso, o Cinema da África estabeleceu seu próprio fórum. FESPACO agora acontece de dois em dois anos, alternando com o Festival de Cinema de Cartago, em Cartago, na Tunísia.

A Federação dos Cineastas Africanos - FEPACI foi fundada em 1969 para promover a produção, distribuição e exibição do Cinema africano. Desde sua concepção, a FEPACI tem sido parceira de outras organizações no desenvolvimento social, político e econômico do continente africano.
O soleil O de Med Hondo, filmado em 1969, foi reconhecido imediatamente. Não menos engajado que Sembène, ele utiliza uma linguagem menos formal para mostr o que significa ser ter um tom de pele "errado" na França.
A comédia Touki-Bouki de Djibril Diop Mambéty, rodado em 1973 sobre um casal de jovens em Dakar querendo viajar para Paris a qualquer custo é considerado um dos melhores filmes africanos já realizados.

 

Após 1980

Yeelen, feito em 1987 por de Souleymane Cissé e Guimba, feito em 1995 pelo Sheik Oumar Sissokoor, ambos de Mali, foram bem recebidos no ocidente. Alguns jornalistas especializados criticaram os diretores por adaptarem os filmes aos gostos do público ocidental.
Alguns filmes dos anos 1990, como Quartier Mozart, de Jean-Pierre Bekolo (Camarões/1992), foram situados nas metrópoles africanas globalizadas.
O primeiro ápice do cinema africano aconteceu na África do Sul, em 2006. Foi seguido pelo IX Congresso da Federação dos Cineastas Africanos - FEPACI.

 

Produção e divulgação

Os cineastas africanos geralmente têm dificuldades de atingir seu público. As salas comerciais geralmente têm que programar e exibir primeiramente filmes de Hollywood (americanos) ou de Bollywood (indianos).No entanto, ainda há sessões reservadas, nas quais o público têm acesso a filmes africanos. A maioria dos cinestas africanos ainda dependem de instituições européias para financiar suas produções. Uma produção de Vídeo viável e consistente se estabeleceu na Nigéria, informalmente conhecida como Nollywood.

 

Missão

A abordagem política dos cineastas africanos é evidente no "Charte du Cinéaste Africain" (Manifesto dos cineastas africanos), que a União dos Cineastas Africanos adotou na Argélia em 1975
Os cineastas começaram a denunciar o neocolonialismo nas sociedades africanas. "As sociedades africanas vivem dominadas em vários níveis: politicamente, economicamente e culturalmente". Os cineastas africanos reafirmaram sua solidariedade a posições progressistas dos cineastas de outros países. O Cinema da África geralmente é visto como parte do chamado Third Cinema.

Nas palavras de Souleymane Cissé: "A primeira tarefa dos cineastas africanos é mostrar que os africanos são seres humanos e ajudá-los a descobrir seus valores que podem ser postos a serviço de outros. As próximas gerações vão ampliar para outros aspectos do cinema. Nossa obrigação é mostrar que os homens brancos mentiram com suas imagens" (Thackway, p. 39).
Alguns cineastas, como Ousmane Sembène, tentaram resgatar a história relembrando a resistência à dominação européia e islâmica.

O papel do cineata africano é geralmente comparado ao poeta Griot,[1] isto é, refletir experiências coletivas. Modelos da tradição oral reaparecem nos filmes africanos. Os filmes africanos também têm sido influenciados pela tradição de outros continentes, como o neorealismo italiano ou o Cinema Novo, do Brasil, o cinema da Rússia, a forma de Yasujiro Ozu e pelo teatro de Bertolt Brecht.

 

Mulheres cineastas

A etimologista Safi Faye foi a primeira diretora africana a ganhar reconhecimento internacional.
Em 1972, Sarah Maldoror filmou Sambizanga sobre a Guerra colonial portuguesa, no período 1961-1974, em Angola. Mulheres sobreviventes do conflito armado são o assunto do documentário Les oubliées (Os esquecidos), realizado por Anne-Laure Folly vinte anos mais tarde.

 

Diretores por País

 * Africa do Sul: Lionel Ngakane, Seipati Bulani-Hopa, Mickey Dube, Gavin Hood, Zola Maseko, Sechaba Morejele, Morabane Modise, Teddy Matthera
    * Angola: Sarah Maldoror, Zeze Gamboa
    * Benin: Jean Odoutan, Idrissou Mora Kpai
    * Burkina Faso: Idrissa Ouedraogo, Gaston Kaboré, Dani Kouyaté, Fanta Régina Nacro, Apolline Traore, Orissa Touré, Pierre Yameogo, Sanou Kollo, Pierre Ruamba
    * Camerões: Jean-Pierre Bekolo, Bassek Ba Kobhio, Jean-Pierre Dikongue, Jean-Marie Teno, François Woukoache
    * Cabo Verde: Fernando Vendrell, Francisco Manso
    * Costa do Marfim: Desiré Ecaré, Fadika Kramo Lancine, Roger Gnoan M'Bala, Jacques Trabi
    * Congo: Mweze Ngangura, Balufu Bakupa-Kanyinda, Joseph Kumbela, Zeka Laplaine
    * Egito: Salah Abu Seif, Youssef Chahine, Yousry Nasrallah, Ezzel Dine Zulficar, Sherif Arafa, Tarek Al Erian, Atef El Tayeb, Khaled Youssef, Ali Badrakhan, Dawood Abdel Said, Magdy Ahmed Ali, Marwan Hamed, Amr Arafa, Barakat, Ehab Mamdouh, Sandra Nashat, Enas El Deghedy, Adel Adeeb, Mohamed Khan, Ehab Lamey, Shady Abdel Salam, Hala Khaleel, Khairy Beshara, Ali Ragab, Hady El Bagoury, Radwan El Kashef, Ashraf Fahmy, Samir Seif, Ali Abdel Khaleq, Nader Galal
    * Etiopia: Haile Gerima
    * Gabão: Imunga Ivanga
    * Gana: Kwaw Ansah, King Ampaw, John Akronfrah, Fara Awindor
    * Guiné: David Achkar, Gahité Fofana, Mohamed Camara
    * Guiné Bissau Flora Gomes
    * Mali: Souleymane Cissé, Cheick Oumar Sissoko, Abdoulaye Ascofare, Adama Drabo
    * Mauritânia: Med Hondo, Abderrahmane Sissako, Sidney Sokhana
    * Nigéria: Oumarou GandaOla Balogun, Eddie Ugboma, Amaka Igwe, Zeb Ejiro, Lola Fani-Kayode, Bayo Awala, Izu Ojukwu, Greg Fiberesima,Tunde Kelani, Jide Bello
    * Quênia: Judy Kibinge, Jane Munene, Anne Mungai
    * Senegal: Ousmane Sembène, Paulin Soumarou Vieyra, Djibril Diop Mambéty, Moussa Sene Absa, Safi Faye, Ababacar Samb-Makhbaram, Ben Diogaye Beye, Clarence Delgado, Ahmadou Diallo, Bouna Medoune Seye, Moussa Touré, Mansour Sora Wade, Samba Félix Ndiaye
    * Somalia: Abdisalam Aato
    * Sudão: Gadalla Gubara
    * Togo: Anne Laure Folly

Filmes sobre o Cinema africano

  • Câmara da África, Diretor: Férid Boughedir, Tunísia/França, 1983
  • Les Fespakistes, Diretoress: François Kotlarski, Eric Münch, Burkina Faso/França 2001
  • This is Nollywood

 

Referências



terça-feira, 15 de março de 2011

Agende-se: 19/03/11 - O preço do perdão, de Mansour Sora Wade

 
Após merecidas férias e balanço para reflexão, o Cine Afro Sembene retorna ao Centro Cineclubista de São Paulo (CECISP) a todo vapor e com novidades para o biênio 2011/2012. "Hoje, é preciso cultivar a machamba da Revolução nos carreiros do mato, gastando as mãos e os olhos em esforços longos e vastos. Tropeçando, caindo e de novo erguendo-se, aprendendo e formando-se na experiência humana de dores e de vitórias e colhendo os primeiros frutos. Ainda mirrados, mas já frutos camaradas", já dizia Marcelino dos Santos, um poeta de Moçambique. Amantes da milenar cultura e da jovem cinematografia africana, aguardem. O cardápio promete para todos os gostos e paladares. Sábado, 19 de março de 2011, a partir das 19 horas, o Senegal nos contemplará com um filme de Mansour Sora Wade:   


O PREÇO DO PERDÃO (LE PRIX DU PARDON). França/Senegal, 2001, legendas em português. Direção  Mansour Sora Wade, duração 90 minutos. Sinopse: Um espesso nevoeiro cobre há vários dias uma aldeia da costa sul do Senegal, e impede as pirogas de entrar no mar. O velho religioso da aldeia está moribundo e não pode executar os ritos. Seu filho de 20 anos, Mbanik ganha a confiança da população e cativa a jovem Maxoye. Mas seu sucesso desperta a inveja de Yatma, seu amigo de infância. Acervo: Oubí Inaê Kibuko.

Sobre o Diretor: Mansour Sora Wade nasceu no Senegal em 1952 e estudou em Paris, onde completou um mestrado em cinema. Entre 1977 e 1985 foi responsável pelo arquivo de audiovisual no Ministério da Cultura do Senegal. Depois de ter feito várias curtas-metragens e documentários, “Le Prix du Pardon” (2002) é a seu primeira longa-metragem de ficção, tendo recebido prémios nos festivais de Amiens, Fribourg, Milan e Montreal.

Realizou também:
Fary l’ánesse, 1989, ficção.
Taal Peex, 1990, ficção.
Aïda Sauka, 1993, documentário.
Isso Lo, 1994, documentário.
Les Laveurs du Banco, 1996, documentário.
Les Plasticiennes de Ouakam, 1996, documentário.

LOCAL: CECISP – Centro Cineclubista de São Paulo
Rua Augusta, 1239, conj. 13 e 14 – São Paulo
Próximo a Avenida Paulista - Metrô Consolação
Horário: 19 horas - Entrada Franca

Informações: (011)3214-3906
http://www.centrocineclubista.blogspot.com 
http://www.cineafrosembene.blogspot.com

Realização: Forum África

Colaboração:

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